domingo, 29 de janeiro de 2012

Gotas


Ainda há pouco estava a chover...
a rua perdida do encanto do fim de tarde
e Eu ficava de plantão, à janela, a olhar...
As pessoas da rua, absortas dela...
As flores do canteiro à espera...
E Eu... à espera...
A luz cinzenta dos dias de inverno
a mergulhar a rua no esquecimento.
Ainda há pouco estava a chover,
nem há um minuto...
E Eu ganhei um pouco de tempo
que agora me parece inútil.
E a chuva passada que foi
deixou tudo diferente, molhado, sei lá...
Se as coisas mudassem assim, ao capricho
das gotas de chuva que sem saberem
mudam o que quer que toquem...
Se as coisas mudassem assim, num minuto...
Num bafejo de sorte, ou calor, ou algo
que sem sabermos pudesse fazer diferença...
Se ao menos tudo fosse mutável...
Como uma rua, molhada...
No fim de um aguaceiro invernal...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Céu


O céu acabou...
Do leito de um momento parado no tempo,
um suspiro vem, vai...
Crença de que a vontade que o libertou
tinha razão quando se ouviu...
O céu acabou...
E as luzes do dia que sai de mansinho,
as cores do caminho,
o olhar perdido de alguém que acordou
e se apercebeu de repente...
O céu acabou...
Não há azul, nem sons, nem recortes,
visíveis apenas uns pontos de luz
perdida num mar de escuro
trémula, distante...
Ergo o semblante...
Desperta o olhar num suspiro...
Deita-se a mente naquilo que vê.
Acorda o lado esquerdo da Alma,
percebo, com calma,
o que o dia que foi, deixou...
O céu acordou...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cabeça de Vento


Cabeça de vento...
Liga à terra como um fio de prumo
feito de fios que partem,
sem se ver, ditraídos, desatentos...
Cabeça de ventos...
Perdida, voa pela vida como
se não houvesse precisão
de a contrariar, controlar...
Sempre...
E as coisas, obviamente, más e boas,
todas iguais, todas diferentemente iguais.
E os sinos que badalam a dar as horas
a desviar a atenção àquilo que se quer,
atento...
Cabeça de vento.
Sorte a tua, por agora, que o que
perdes nesse éter de dentro,
não desvia quem te quer,
e segue contigo o teu rumo...
Sorte a tua que a vida
ainda se não lembrou de te
dar um coice valente
que te entre, força adentro...
Cabeça de vento...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Demora


Demora a chegar...
Sentidos no chão dispersos.
Um olhar distante, disforme e só.
Um sopro de nada
e o fogo a crescer...
Demora a chegar...
Sentimento que aperta...
Um baque no lado esquerdo da Alma
Vou sair...
Está frio lá fora.
Não digas nada,
abraça-me apenas...
Preciso desse abraço para o caminho.
Nem sei sequer onde vou...
A chuva espera-me lá fora e Eu...
Espero por ti, sem ti,
sem ninguém que me
aqueça o fogo que morre...
Demora a chegar...
Sentidos no chão, dispersos,
sem rumo... sem cor...
E o fogo a crescer.
Demora a chegar...
Mas quando chegues,
apressa-te a partir.
Não vá o olhar perder-se em ti
e prender-te a algo que não deseje...