sábado, 26 de junho de 2010

Morde

Morde a língua...
Não fales agora que eles olham-te de soslaio
e nem sequer acreditam no que digas...
Nem sequer crêem que lhes dês o que quer que seja.
Morde a língua...
Não penses que dizer o que queres
se pode ser ou fazer...
Despe os preconceitos e não te percas
no vazio das palavras,
quando fogem da língua sem que queiras...
Morde a língua...
Não te afogues no escuro
da agua diferente...
Da agua que te cala do mundo
quando abaixo dela queiras falar...
Quando quiseres falar,
fala...
Mas sem que te percas
agua adentro e perdido do mundo...
Senão,
Morde a língua...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Escada


Já sei o que foi...
As escadas que descem para a rua e vão de encontro à porta fechada
que se esconde, no lado de dentro às pessoas que passam,
está agora à mercê da luz do Sol...
Do sujo...
As escadas estão lá, e sempre estiveram,
mas, vá-se lá saber porquê,
nunca ninguém as viu.
Nem a quem elas serviam todos os dias para ligar a rua
ao mundo escuro que existia lá em cima...
Já sei o que foi...
´É por isso, se calhar que nunca tiveram pó...
Sempre a subir e descer alguém,
que nunca ninguém viu.
Ou nunca ninguém reparou...
Só agora, que estão vazias e abertas ao mundo...
Já sei o que foi...
Abriu-se a porta e veio assomar-se,
a curiosidade.
E de repente começaram a olhar,
a espreitar e a ver as escadas,
nuas de vida.
Nuas de calor.
Nuas de tanto silencio...
E olham para elas com uma
curiosidade quase mórbida...
Como a alguém ao qual se rouba um sonho
bonito e se deixa, sem remorso,
sozinho, no frio da desilusão...
E os outros a olhar...
Sem ver nada.
Já sei o que foi...
Foi um ar que passou por aqui...
Foi o olhar que despertou...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Paciência...


Nestes dias é que nos damos conta do que esquecemos
e afastámos para trás das costas...
Nestes dias é que sentimos a falta
de alguém que há já muitos anos fugiu do nosso mundo.
Nestes dias é que damos connosco a pensar nos
desfeitos e errados que afinal nada eram
senão opções que devíamos ou não seguir...
E depois é nestes dias que algo de bonito
vem ter connosco e nos devolve o calor
de um dia tranquilo.
O doce de um sorriso rasgado...
A ternura de um beijo que voa e vem cair
de mansinho na nossa face...
E nestes dias estamos tão embrenhados
no que se passou, tão envoltos em duvida,
tão desesperados por respostas que não chegam que...
Passa tudo ao lado...
Como a porta do metro a fechar mesmo quando estávamos
quase quase para entrar...
Paciência...
Esperas pelo próximo...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sorriso perfeito

Começou...
Um sentimento de quente
aqui dentro...
Sentimento de paz e alegria.
Deixo para trás aquilo que quis um dia.
Deixo para trás o que pertence ao passado.
Não o queria afinal...
Não assim.
Rasga-se a minha boca num sorriso perfeito
que há já muito não desenhava a minha face.
Será por ti?
Se calhar é por ti...
Se calhar foste tu...
Se calhar não...
Ou se calhar é só porque me abriste
o coração outra vez...
E se for por isso...
Só por isso, vou ter-te para sempre comigo.
Nem que seja só por teres um sorriso perfeito.
Nem que seja só por ter um sorriso perfeito
com a cara esborrachada na janela
molhada da chuva.
Nem que seja só por libertar de dentro mim
esta forma bonita de saber que estamos bem...
Um sorriso perfeito...
Num dia de chuva.

domingo, 6 de junho de 2010

Distante

Tenho uma mão cinza
neste meu dia de frio ardente.
Sai de mim um vento agreste
que voa pelo ar pardo.
Faz-se asco só de pensar no passado...
Já nem as cartas que te escrevi
guardo na caixa debaixo da cama...
Uma destas noites frias de verão,
queimei-as na lareira para me aquecer...
Guardei a caixa debaixo da cama,
agora vazia de passado...
Tenho uma mão fria
neste meu dia de cinza ardente.
E o cinzento da fogueira que agora
de lume já nada emana,
inunda o ar que se torna venenoso.
Tenho de sair...
Fugir do canto frio de cinza que me
tenta sufocar, e explodir no
dia que me espera...
Explodir de alegria...
Estou cá fora!!!
Vou sorrir bastante,
manter um ar distante
e esquecer quanto tempo faz.
Já não me prendes...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Momento invejoso


Desliguei o radio...
Agora não me apetece atordoar os ouvidos
de sons que me parecem estranhos.
Quando se tem a cabeça cheia de merda
não se consegue escutar o radio...
Pena não poder desligar também a cabeça
e os olhos, do dia... Bem bom seria.
Pena não poder parar o Mundo por uns tempos.
Só até tirar a limpo a discórdia
que reina em minha mente
e por tudo no lugar, e aí,
aí então carregar de novo no botão
para ligar o Mundo, e Ele começar a rodar
outra vez... Devagarinho.
E nesse tempo tempo de pausa, ter nada.
Só nada que me parasse o tempo de tudo... Todos...
Só nada para poder respirar fundo um pouco de nada.
Nada para me fazer companhia nesse momento invejoso.
Já desliguei o radio...
É um bom começo...