sábado, 30 de junho de 2012

Nem que fosse...



Um dia ouvi-te no vento...
O som que ele tinha,
um suave murmúrio
do tempo que passa...
E às vezes sentia-se o som...
Nem que fosse ao de leve...
Um dia esperei-te na chuva,
molhado e esqueci o sentido
das coisas que quis...
E nem olhei para trás.
Nem por um momento que fosse...
Fiz um percurso na areia
para que o seguisses,
que o mar apagou assim
que me voltei para o ver...
E o som de uma gota de chuva
nem sequer é audível a quem
o não queira...
Não como o som do mar...
E eu não queria.
Mas um dia ouvi-te no vento...
E matou-me devagar a saudade.
A vontade...
Esperei-te na chuva e,
a ouvir-te no vento,
e o vento a deixar-me aqui,
só, exausto em tanto esperar,
de te ouvir e não ver...
Sentir...
Nem que fosse...



terça-feira, 12 de junho de 2012

... passam...

Está frio aqui...
O céu já não tem estrelas
e as pessoas descem rua abaixo
como agua de uma chuvada invernal.
E a chuva que cai e molha este corpo
parado num tempo que já nem é daqui,
molha... até aos ossos.
Está frio aqui...
A mente distante, dispersa num lago
de esperanças e vontades perdidas,
que anseias por perto,
mas longe...
Está frio aqui...
As ideias custam a sair
e desarrumam-se sozinhas,
e não sabes pô-las no lugar...
E as pessoas passam...
E nem o olhar basta para um toque.
Nem um toque basta para um olhar.
E quando te bate no peito o frio que está,
encolhes-te em ti, e a concha que cresce,
não se vê de fora, só cá dentro.
E a gente não sabe, não percebe, ou não quer,
ou crê, que está frio aqui...
Mas está...
E é um frio que só dói cá dentro.
Uma dor de mansinho,
 que os outros não sabem.
E assim têm medo de entrar...
Têm medo que a dor seja igual...
E para mal já basta o seu...
Está frio aqui...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Frágil


Frágil...
Na ponta dos dedos, segura...
Um baque no peito, um olhar a piscar.
Um segundo basta, meio, para te transformar...
Frágil...
Um inspirar, um suspiro, frase falada,
ouvida ou então, nada...
De um momento para o outro
tudo é em vão, esquecido
e passa ao lado de um instante
que pode ser tanto, tão pouco...
Nada...
Frágil...
E sem se saber, arrisca-se
Despreza-se, ignora-se 
o frágil que és
numa redoma de vidro que desce
descontrolada um rio de pedras.
E o fim, frágil, esquecido, hoje...
Para sempre...

domingo, 8 de abril de 2012

Outro plano


Se as curvas do caminho se cruzassem,
Se as ondas de um mar nos alcançassem
e um sentido só, para tudo...
Sereno, dentro deste frasco de papel...
Mel...
De um doce que só lembra ao Diabo...
De um suspiro Divino, Divinal...
Momentos rasgados de ardor.
Se por momentos fosse, o amor...
Deitado na areia da praia, deserta...
O mar ao longe, tão perto, sem fim.
Naveguei-o sem parar, e tu?
Uma ténue recordação, de longe a longe,
a trilhar as ideias e o lado esquerdo da Alma...
Já não sou mais que palavras,
perdidas ao vento...
E se lhas pedir,
vira-me as costas e encontra-se
contigo, num outro plano...
Uma outra realidade...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Num dia pensado assim


Não és mais que um ponto de luz...
Distante, no fim de um dia cansativo.
E as coisas que me chateavam,
que me punham fora do lugar,
estão longe do pensamento...
Às vezes nem tudo o que queremos é bom.
Às vezes faz bem pensar em coisas
que não fazem sentido nenhum...
E se a chuva começar a cair durante a noite,
eu levanto-me e vou à janela,
só para a poder ver de novo...
Que saudades do cheiro a molhado...
Que saudades da calma escura
de uma noite de chuva mansa...
Que saudades das tuas mãos...
Que saudades tuas...
Que saudades...
E o som da saudade a bater
no lado esquerdo da Alma,
a rasgar a memória e as coisas
que se queria esquecer...
Vamos lá esquecer um dia de chuva...
Não... nunca... não quando se sente
saudade do momento em que
as gotas nos saciavam a Alma,
carente de água, amor, alegria...
E as coisas que me chateavam,
que me punham fora do lugar,
estão longe do pensamento...
E não são mais que um ponto de luz...
Distante, num dia pensado assim...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

24 Fevereiro 1990



Acorda um murmúrio distante...
Um sopro no peito, dormente
de um frio que se suporta
mas só até um ponto...
Foi hoje, há tanto tempo...
Foi hoje...
As coisas lá fora correm,
normais, banais demais.
Dentro, cá dentro, nem parece
que o Mundo continuou a viver...
Todos os dias estás aqui.
Todos os dias te vejo...
Nas nuvens, nos pássaros,
nas crianças que brincam
no jardim, na praia...
Todos os dias sinto,
e mesmo que não acredite,
sinto que se me voltar de repente,
estás ali, a olhar para mim
com aquele sorriso de que,
agora já mal me recordo.
E o Mundo passa e deixa
mostrar que o tempo continua.
E a vida segue sem parar,
as coisas continuam no lugar...
E isso deixa-me feliz...
Feliz por saber que estás ali.
Que estás ao nosso lado
e que nos mostras o caminho
a seguir...
Mesmo que não estejas, para mim
estás...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Gotas


Ainda há pouco estava a chover...
a rua perdida do encanto do fim de tarde
e Eu ficava de plantão, à janela, a olhar...
As pessoas da rua, absortas dela...
As flores do canteiro à espera...
E Eu... à espera...
A luz cinzenta dos dias de inverno
a mergulhar a rua no esquecimento.
Ainda há pouco estava a chover,
nem há um minuto...
E Eu ganhei um pouco de tempo
que agora me parece inútil.
E a chuva passada que foi
deixou tudo diferente, molhado, sei lá...
Se as coisas mudassem assim, ao capricho
das gotas de chuva que sem saberem
mudam o que quer que toquem...
Se as coisas mudassem assim, num minuto...
Num bafejo de sorte, ou calor, ou algo
que sem sabermos pudesse fazer diferença...
Se ao menos tudo fosse mutável...
Como uma rua, molhada...
No fim de um aguaceiro invernal...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Céu


O céu acabou...
Do leito de um momento parado no tempo,
um suspiro vem, vai...
Crença de que a vontade que o libertou
tinha razão quando se ouviu...
O céu acabou...
E as luzes do dia que sai de mansinho,
as cores do caminho,
o olhar perdido de alguém que acordou
e se apercebeu de repente...
O céu acabou...
Não há azul, nem sons, nem recortes,
visíveis apenas uns pontos de luz
perdida num mar de escuro
trémula, distante...
Ergo o semblante...
Desperta o olhar num suspiro...
Deita-se a mente naquilo que vê.
Acorda o lado esquerdo da Alma,
percebo, com calma,
o que o dia que foi, deixou...
O céu acordou...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cabeça de Vento


Cabeça de vento...
Liga à terra como um fio de prumo
feito de fios que partem,
sem se ver, ditraídos, desatentos...
Cabeça de ventos...
Perdida, voa pela vida como
se não houvesse precisão
de a contrariar, controlar...
Sempre...
E as coisas, obviamente, más e boas,
todas iguais, todas diferentemente iguais.
E os sinos que badalam a dar as horas
a desviar a atenção àquilo que se quer,
atento...
Cabeça de vento.
Sorte a tua, por agora, que o que
perdes nesse éter de dentro,
não desvia quem te quer,
e segue contigo o teu rumo...
Sorte a tua que a vida
ainda se não lembrou de te
dar um coice valente
que te entre, força adentro...
Cabeça de vento...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Demora


Demora a chegar...
Sentidos no chão dispersos.
Um olhar distante, disforme e só.
Um sopro de nada
e o fogo a crescer...
Demora a chegar...
Sentimento que aperta...
Um baque no lado esquerdo da Alma
Vou sair...
Está frio lá fora.
Não digas nada,
abraça-me apenas...
Preciso desse abraço para o caminho.
Nem sei sequer onde vou...
A chuva espera-me lá fora e Eu...
Espero por ti, sem ti,
sem ninguém que me
aqueça o fogo que morre...
Demora a chegar...
Sentidos no chão, dispersos,
sem rumo... sem cor...
E o fogo a crescer.
Demora a chegar...
Mas quando chegues,
apressa-te a partir.
Não vá o olhar perder-se em ti
e prender-te a algo que não deseje...