segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fala



Nem sei bem o que pôr aqui...
Nem como o escrever...
São coisas não se explicam...
Não me explicam...
Devo ser burro, ou então
não percebo as pessoas...
Ou são elas que não me percebem a mim.
Creio, e assim fui ensinado,
que as coisas se resolvem com
conversa, dialogo ou algo
que se entenda pelas duas partes.
Acho injusto alguém atacar alguém
só porque sabe que isso magoa.
Acho injusto que um sentimento
bonito mude de sentido
só porque não se percebe
ou não se compreende...
Acredito que há sempre uma
razão para as coisas acontecerem.
O problema maior é pensar que
os outros têm de ser como nós...
Somos diferentes e o diálogo
faz com que possamos entender
e compreender essa diferença.
Fala...
Entende o porquê das coisas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Só tu


Só tu...
E Eu aqui...
Só um desligar turvo do mundo...
Só uma pausa no café a ferver...
Só alguém a tocar guitarra...
E Eu oiço...
Só o som distraído do mar a beijar a areia...
Só o movimento solitário de uma Lua presa no céu...
Só a noite a tentar engolir as luzes da cidade...
E Eu.. aqui...
Só um dia que passou, mais um... ou menos...
Só uma pitada de alegria que circula no vazio...
Só um escutar surdo de algo que foi...
E Eu tranquilo... aqui...
Só uma pitada de sal...
Só alguém perdido no tempo
Só mais um pouco por favor...
E Eu olho-te...
Só um beijo com sabor a mar...
Só um pensamento quente...
Só uma caricia, um mimo...
E Eu sorrio...
Só tu...

domingo, 22 de agosto de 2010

Placcard




Hoje vim aqui, porque queria
sentir um pouco de calor...
Vim aqui porque queria que
não me dissessem sempre
que a vida segue rumos
diferentes e que as pessoas se
distraem dela e descarrilam...
Hoje vim aqui porque tinha
algo para dizer...
Algo que fosse de monta,
ou que se pudesse
por num placcard
para toda a gente ver...
Hoje vim aqui porque
cheirava a sardinha assada
e me lembrei dos santos,
e nós a descermos pelas ruas de Alfama
ao som da alegria e da festa.
Hoje vim aqui para dizer
e fazer ver que até nem
é exactamente por isso
que tenho de o fazer.
Hoje até posso não ter cá
ninguém para me ouvir,
ou até ninguém que o entenda,
mas vim aqui,
porque quis...
Só para o dizer...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Histería


Ainda agora estive aqui.
Ainda agora senti o que já há
muito não me corria nas veias.
E assim sem mais nem menos
fez-me tremer de excitação.
Ainda agora tremi...
E o sentido deste sentimento
era contrario...
Que nem o vento, quando queremos
fechar a porta, com a janela aberta.
Ainda agora estavas aqui...
E Eu aqui, também, a sentir
que aqui estavas...
E foi bom senti-lo outra vez.
Sentir-te mais uma vez e
mais uma vez sentir que
o sentimento não faz sentido.
E ainda agora tudo parecia
paralelo e rectilíneo, e,
de repente, parece
que o vento fez escaqueirar
a porta e a janela se abriu,
e ele entrou, chão adentro e
levantou e rodopiou
os cortinados e o tapete.
Ainda agora estava aqui
tudo calmo e já já,
está tudo virado do avesso,
na alegria histérica
da teoria do caos...
Ainda agora aqui estive,
só que agora quero cá ficar...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Não é nada


Já te disse mil vezes...
Não é nada.
Já to disse sem que me ouvisses.
Já to fiz ver sem que desses atenção ao
lugar para onde te aponto o dedo.
Fartinho de te resgatar a toda a hora
dos refúgios onde te metes
e depois não consegues sair.
Agora digo-to mais uma vez...
Ultima quem sabe,
não é nada...
Já me disseste tu mil vezes...
Não é nada, nunca é nada
mas às vezes, quase sempre,
é tudo e mais alguma coisa.
E, vá-se lá saber porquê, insistes em pensar
que a minha cabeça é como a tua,
que descubro sempre tudo
e que percebo nas entrelinhas.
Nem todos são como tu, meu amor.
Nem todos têm esse olhar ao mundo.
Há quem seja cabeça no ar
e nem sequer se importe em ser assim.
Como as fotos que se tiram sem nexo..
Não são nada, mas às vezes
dizem tudo...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Espera


Deserto por te ter aqui comigo...
Nem consigo respirar o ar que me rodeia.
Anseio pela hora a que chegue
o primeiro comboio, e o som
das carruagens a entrar pela estação,
me encha os ouvidos de lágrimas
de alegria e êxtase...
Já nem me consigo manter de pé...
Vou sentar-me no cadeirão que jaz
em frente à porta de ferro e de lá
espero alcançar o teu rosto,
assim que desças das escadas
e o teu olhar cruze o meu...
Deserto por te ter aqui comigo...
e a hora que não passa...
Não chega...
Não chegas...
A alegria sai de mansinho
e deixa-me aqui,
sentado no cadeirão
à tua espera.
Não se ouve o ronco do metal pelos carris...
Não se vê a nuvem de fumo ao longe...
Não te vejo nem a ti...
Só ao deserto que estou por estar contigo.
E à hora que teima em nunca chegar...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Encravado


Um dia vou por aí e brado
aos quatro ventos
tudo o que está encravado
na minha garganta
e teima em não sair daqui...
Um dia espero-te à porta do trabalho
e assim que te veja,
vai começar a chover,
e depois sorrio, para
te mostrar que a culpa,
desta vez é minha...
Um dia apanho o primeiro
avião que possa e desapareço
para onde ninguém me fira a Alma.
Um dia visto um manto
de luz negra e deixo de ser visto
para o Mundo hipócrita...
Um dia deixo-me destas
ladainhas e começo
finalmente a viver,
a viver a vida que escolhi.
Um dia ganho coragem
para te pôr de vez
no lugar da mente
onde mereces estar...
Queres saber?
Eu digo-te...
Um dia...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Flagelo 2010


O vento já mudou...
Agora sopra de encontro a mim...
Traz-me um odor a queimado
e quando olho para o horizonte,
tudo o que vejo é névoa...
Cinza e ocre que cobrem este céu
que devia ser de azul...
O vento mudou...
Haverá algum dia alguém
que ponha a mão nesta
gente de brandos costumes
que de brando já pouco tem
ou nada...
Ponham a mão no vosso país,
que definha de ano para ano
sem que ninguém se dê ao
trabalho de acordar
e de ver que está a
desaparecer o que de mais
belo temos... ainda.
O vento mudou...
Pode ser que traga consigo
a consciência das pessoas,
e que as faça pensar que sim,
que todos podemos fazer algo...
Façam algo...
O pouco que seja ajuda.
Convençam-se disso...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Luz do dia


É o ultimo resto de dia.
Prendem-se ainda alguns raios do Sol
num céu agora a perder as cores.
O farol do cabo começa o seu
bailado nocturno
e despeja pela paisagem
ténues momentos de luz...
Sentado a contemplar o mar,
sem sequer se aperceber que começa
pouco a pouco a chuviscar,
um ser pensativo mergulha o seu dia
naquele imenso azul escuro.
Como se estivesse a esconde-lo de si mesmo,
ou então a desfazer-se de algo que já não
lhe pertence mais...
Esvoaçam aqui e ali os pardais mais astutos
em busca de algo mais que lhes encha o bucho
antes que se vá a luz do dia...
Breves momentos que se tornam
para "sempre", quando se está assim...
E a chuva que começa a Beijar suavemente
a parte de baixo do mundo, sem que se note,
vai molhando, devagarinho...
E o farol continua...
Parece imortal com o seu raio de luz.
Inunda a paisagem com memorias
do dia, quando a noite é já rainha
de tudo à sua volta...
E o ser lá está,
sentado, imóvel,
como que longe desta realidade.
Como que esperando que o dia
mergulhado nesse azul escuro à sua frente,
não saia de onde está e se perca para sempre...
E sempre...