quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não consigo ver daqui


Olho a janela sem ter onde olhar...
Os carros passam, lá em baixo...
Ouve-se ao fundo o som do ribeiro,
ou se calhar é a chuva...
É escuro, não sei...
Estou partido e faminto por ti,
e não me apetece fazer jantar...
Nem sair, nem fazer nada.
Só ficar aqui... à janela...
A pensar no que se esvai
da mente sem que queiramos.
Já vinhas, sono, roubar-me a mente
da beira da janela onde olha os carros
que passam, lá em baixo...
Já vinhas tu agarrar o meu olhar
e com um sorriso, derrubar
o muro que todos os dias
me prende deste lado da Alma...
É escuro, não sei...
Não consigo ver daqui.
Dá-me um pouco de luz...
Ou então dá-me sono e deixa-me ir dormir...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Procurei sozinho


Precisei de ti...
Procurei-te pelos cantos da mente
e pelos sentidos do vento a fora...
Revolvi os papeis que deixei em cima da mesa.
Mas não te vi...
Em lado nenhum estavas quando,
logo quando, precisei de ti...
Saí pela rua fora com a boca e a Alma,
bradei aos céus que me dissessem onde estavas...
Mas não me disseram...
Só mandaram chuva e desatino.
Ventos e confusões logo agora,
que precisei de ti...
Caminhei pela estrada negra
sem eira nem destino
em busca do sabor da tua pele...
Queria um fugaz momento,
pouco que fosse, ou muito.
Mas não te encontrei...
Fiz-me assim à procura
de ti, do teu amor...
Procurei sozinho...
E nada...

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amanhã


As coisas hoje estão cinzentas...
Nem a cidade responde às pessoas...
Nem os pássaros se dignam a falar.
Tudo se envolve de um ar pardacento
estúpido e adormecido...
Nem as pessoas se sentam e pensam.
Não vejo ninguém sorrir...
Nem os passos que dão são verdadeiros.
Hoje tudo parece parado no tempo.
Como aqueles postais da cidade antigos.
Parece que tudo se estatelou no monótono.
No tempo em que se não entendiam as coisas,
mais compreensiveis...
E até parece que o mundo deixou de se compreender
e tudo parece não fazer sentido...
E eu pareço complicado, com estas ideias...
Idiotas...
E nem o céu se digna a mostrar o seu azul...
Parece que
Hoje tudo precisa de amanhã...
Se calhar amanhã já passou...
Já se vê...



Sonho

O dia vomita os primeiros raios de luz...
À minha volta, um ar de cinza
e névoa envolve a praça e os bancos
ainda frios ao toque frágil
de uma mão cheia de nada...
Nada se move neste pormenor matutino...
Ao longe, onde me não alcança a vista,
estala o ribombar surdo de metal
a sulcar os carris do empedrado...
Bem de mansinho começa a desenhar-se
a silhueta do primeiro 28 da manhã...
Desce lento pela rua deserta...
Um laivo de amarelo que
se prontifica a pintar
a manhã fria da cidade...
É Domingo, e hoje queria passear
de mão dada contigo...
Queria ter-te ao meu lado.
Podermos descer eletrico
abaixo pela rua, invejosa
da nossa alegria...
Queria-te a subir o eletrico...
Chega à paragem ao de leve...
Entram os primeiros passageiros
e de repente a névoa foge-me
num corro pio de vento...
A Alma regressa em forma de sons
ao interior da carcaça de metal e madeira.
Sinto que como ele, também eu gostava
que a minha Alma acordasse deste
sonho de domingo...

sábado, 17 de julho de 2010

Shiuu....


Já te calaste?
Faltava cá um suspiro...
Um desenhar de emoções
ao contrario...
Descobriste um lado sombrio
Aquele que me prende
à ilusão de que o Mundo é teu...
Mas não é...
E sei-o.
Sempre soube.
Mas algo me tirava do serio
e me punha a pensar
nos carroceis da feira de Maio.
Na musica que dançava
pelo ar antes de morrer no meu ouvido.
Já te calaste?
Já te calavas...
Fartinho até aos ossos
de ouvir essa ladainha
sempre igual aos dias pardos.
Já te calavas...
Já me deixavas pensar
de novo a serio
e perceber que o teu Mundo
já não tem carroceis,
nem algodão doce com que
se possa deliciar a boca
e os sentidos, agora
surdos ao que dizes...
Já te calaste?
Então?
Não dizes nada?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mana...?


E depois há o silencio.
Há uma espécie de frio vespertino
que se entranha, como no inverno...
E ela dizia: "Este frio chega-me até aos ossos..."
E é esse frio, sabes?
Esse mesmo, que invade o ar quando
o silencio se instala...
E depois vem a dor...
A dor de saber que não há mais voz...
Não há mais barafustar com isto e aquilo...
Porque tu nunca mais chegas,
ou porque o jantar já está na mesa
e está a ficar frio...
E a dor da saudade...
Do sorriso maroto...
Da teimosia carinhosa
Da sopa de feijão...
Sim...
Vem aqui tudo...
Mas como se diz,
é só o inicio de outra viagem.
Quando vier outra vez esse
aperto no lado esquerdo da tua Alma,
olha para o Céu...
Pintam-no para ti...
Para que te não sintas triste...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Valentes


Valentes...
Frios de sentimentos e sentidos contrários...
Fingindo força onde ela se esvai sem dó nem piedade.
Gagos à deriva na agitação das águas turvas sem fundo.
Valentes...
Quando assim que chega alguém mais sentido
cai por terra a força que se fingia de ferro.
Tremem-se as pernas e a alma...
As ideias começam a fugir...
Valentes...
Aqueles que conseguem sentar-se
ao fundo da sala e não verter um sentimento...
Nem uma lágrima...
Só silencio...
Valentes...
Os que ficam e que sofrem por ter agora
uma pontada de não se sabe bem o quê
a escangalhar o lado esquerdo da Alma...
Valentes...
Os que ficam e têm a dor pela frente.
A dor para sempre...
A lembrança do que foi...
E pior, a lembrança do que já não é...
Valentes...
Que sem saberem vão passar
pela noite antes de poder
ver um raio de Sol na manhã
Que aí vem...
Esses são valentes...

sábado, 10 de julho de 2010

A mil


Tenho a cabeça a mil...
Tenho um punhado de coisas cá dentro
que me estão a exceder
a velocidade e o pensamento...
E saem e saltam de ponto em ponto,
e Eu?
Eu bem tento agarra-las
ao chão para ver se consigo,
pelo menos deitar-lhes um olho,
de ver o que são afinal...
Mas não deixam,
furiosas, como se alguém lhes
quisesse fazer mal, fogem
e voam cá por dentro a mil...
A mil...
E até parece que o aspirador da vizinha
que ouço em surdina está cá dentro,
a ver se me apanha as coisa da mente...
Está a mil...
E de pensar que quero...
preciso dormir, nem assim,
se presta a deixar-me em paz...
E nem o raio do aspirador se cala...
Queria paz...
Fazer um chá de camomila
para a cabeça e desligar a luz da vizinha,
só para ter um momento,
ver se conseguia parar esta
diarreia de coisas que
voam pela minha cabeça
agora...
A mil...

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Quero que voltes... tempo,
mas tenho medo do que te posso dizer se o fizeres.
Por isso é melhor que sigas
o teu caminho sem olhar para trás.
Quero que sejas outra vez,
tenho tantas coisas para te dizer...
e se calhar nem todas são boas,
por isso é melhor que cada um siga o seu caminho...
Quero abraçar-te mais um pouco,
quero dar-te mais deste amor que sinto por ti...
mas tenho medo dele,
por isso fica por ai e não venhas...
Ou então vem,
não vá eu perder a cabeça de vez e dizer-te
alto e bom som, que te adoro de tanto te amar...
Quero que venhas...
ou que me digas que vens.
Mesmo que o não faças e me enganes,
quero que voltes...
Quero tanto que voltes...
Tanto que o não quero e pronto!!
Ilusão de delusões que se
esfumam num simples olhar...
Quero que voltes, mas sei que é impossível voltares.
Só queria entender porque é que continuo a querer que voltes...
Não acredito em impossíveis.

domingo, 4 de julho de 2010

Céu vermelho


Há algo de magico nas cores
vivas de um fim de dia...
Uma espécie de recordação,
de lembrança de que afinal,
aquilo que insiste em enferrujar
os carretos da mente,
nada mais é do que nada...
E depois, quando se pára
e se olha este vibrar quieto do céu,
assim, de repente,
tudo se esfuma em mais uma nuvem vermelha
que ali, parece eterna...
É nestes momentos que me lembro
do que tenho, de quem tenho comigo
e de quem esteve ao meu lado no passado
e agora não é mais que uma memoria...
E olho para elas e são todas, todas bonitas...
É aqui que as guardo...
Às memorias que quero para mim.
No céu vermelho de um fim de dia...
Talvez porque sei que, no fundo,
me lembro sempre...
No fundo
só acabou mais um dia...
até amanhã...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Esperar-te


Dá-me um pouco de ti.
Qualquer bocado serve para me
perder num suspiro de memoria.
Já se faz tarde meu amor.
Não tenho paciência nem cachecol
para ficar ao vento, à espera de te ver.
Dá-me um pouco de ti e um
tempo que possa perder
sem me ter preso num
dia frio de outono.
Já não tenho dedos para
gastar nas cordas da guitarra
que se esconde agora
no canto do meu quarto.
Nem vontade que me faça
cantar-te de novo ao ouvido
uma canção suave de verão.
Já se faz tarde meu amor,
mas dá-me um pouco de ti
e com esse pouco,
dás-me força para cantar
e suspirar por um momento teu
e este dia frio de outono
já o posso passar sem o
cachecol e esperar-te...