quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cai...


Um pedaço de céu
dá-te a chuva que cai...
Manhã submersa num tom
de melancolia, fria...
Um pedaço meu,
que adormeceu,
que se esvaí...
Murmúrios que juntos,
souberam a algo, um dia...
Desperto ao mundo dos tons...
A chuva parou e o som
da cidade começa a ouvir-se outra vez.
Um som que te acorda e tira
da dormência do que aconteceu...
um pedaço de vida
que já não te diz respeito...
Um suspiro perdido num mar
de gritos de silencio...
Mal se ouve, mal se vê.
E os ouvidos e sentidos,
presos nesse momento.
Nesse pedaço de céu
que te dá a chuva que cai...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O meu lado esquerdo


Como se fosses de cristal...
Belo, brilhante e vivo de luz
dentro das coisas que são e não são...
Feita de sonhos, meus e da manhã,
que vem, sorrateira, abrir-me os olhos.
Feita de um sorriso que
roubei ao teu rosto no outro dia.
Como se fosses de flores...
à espera dos raios do Sol...
De um pouco de brisa de mar...
Como um barco a navegar as ondas
suaves de um dia de verão...
Como se fosses um céu,
que se derrete em azuis imensos
e nos faz perder o olhar só porque sim...
Como se fosses uma cor de que goste.
Gosto de ti sem querer...
Gosto de ti sem saber...
Quero-te sem te provar...
Acho que sei que cá dentro
o que diz o meu lado esquerdo
é que sim...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

(im) Paciência


Saí agora, e depois?
Já lá estava quando chegaste e não disseste nada...
As pessoas começaram a falar em surdina
e a olhar de soslaio por estar aqui,
sozinho, à tua espera...
O prato na mesa a esfriar e um toque
de amargo na boca, a olhar a porta, e a desesperar por te ver.
Se calhar querias que não me importasse...
E se calhar nem me importo, mas isso não interessa.
Agora já saí...
Perdi o tempo e a paciência de te esperar.
Tenho mais que fazer, mais que ver e mais que conhecer...
Sim, agora que perdi o teu sabor, posso
realmente mudar de gosto e partir para algo de novo.
Se quiseres fica por aí...
Pode ser que um dia percebas aquilo
que senti por ti...
Pode ser que um dia te decidas a perdoar
a minha paciência por te esperar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Acordar


Acordei, abri os olhos e olhei o mar azul,
mesmo à janela do quarto...
O dia espreguiçava-se areia abaixo
e prometia ser quente.
Quente, pensei...
Olhei para a cama e estavas ainda dormir.
Que visão perfeita naquele instante.
As tuas costa nuas e suavemente pousado nelas,
o lençol, que descia por teu corpo abaixo
escondendo e revelando tudo ao mesmo tempo.
Naquele instante amei-te mil vezes seguidas.
Fui à janela respirar um pouco e voltei
para perto de ti.
Pousei as minhas mãos
no teu corpo e sem que soubesses
fiz um mapa de ti na minha mente.
Acordei-te com beijos de cima a baixo.
Abriste os olhos, sorriste para mim,
e quando me ias falar...
Acordei...
Vou ficar o dia todo em casa.
está chover lá fora e neste momento
não me sai da cabeça a tua voz...
E quero dormir de novo,
para saber o que me dizes
quando te acordo aos beijos...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mãe...


Lembro-me daqueles momentos em que de repente,
assim, do nada, me vinha à memoria o quanto gosto de ti.
Lembro-me daqueles dias em que me deste de comer
e me vestiste do inverno que esfriava lá fora.
Lembro-me do sentimento de alegria e aperto no peito,
que dói mas é tão bom...
Lembrei-me agora de novo desse sentimento que pulava do coração
e não me deixava passar um dia que fosse sem que te dissesse.
Amo-te...
Nunca tive a oportunidade de to dizer verdadeiramente.
Era um puto que mal sabia o que é este estranho carrocel a que chamam vida.
Cresci com este sentimento no peito e mesmo quando
me revoltava contra ti, ele nunca me deixava
dar aso a essa revolta, e matava tudo assim que via os teus olhos.
Ali tudo se desvanecia naquele sentimento de amor...
Passou já tanto tempo...
Passei já tanto nesta vida sem ti.
Corri montes e vales, estive nos prados, nas lamas da vida.
E sempre que me lembrei de ti,
vi os teus olhos...
Já não me consigo recordar deles...
Queria tanto.
Queria lembrar-me dos teus olhos.
Queria lembrar-me do teu sorriso.
Queria lembrar-me da maneira como me falavas.
Queria, nem que fosse por um instante, lembrar-me...
Nunca te esqueci... E nunca te esquecerei.
Foste e serás para sempre o meu grande amor.
Estás e estarás sempre no meu coração.
Só queria poder lembrar-te na minha mente um pouco mais...
Um pouco melhor...
Amo-te para sempre...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Às vezes


Às vezes as pessoas não chegam...
Às vezes, por muito que se queira não se acha
o caminho e ficamos parados a olhar o horizonte.
Às vezes não há vontade que chegue,
nem que se queira muito.
Às vezes só há um suspiro...
Uma palmada nas costas de quem
não entende e não sabe...
Um conselho que por bom
que seja, não se pode usar.
Talvez porque às vezes se sente
que por muito que se faça,
nada faz sentido.
E o Mundo insiste em rodar,
em seguir a viagem, mesmo sabendo
que ficámos para trás e se não
formos nós a correr atrás dele...
Aí às vezes perdemos o caminho...
Às vezes dão-nos a mão...
Mas nem sempre podemos contar com ela...
Isso é que dói...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Corpo nu


Corpo nu...
Há um som estranho
nas paredes do quarto.
Um copo de vinho,
meio cheio,
meio perdido...
Os lençóis que já
não estão no lugar.
Corpo nu...
Um aroma a desejo
que paira nos lábios...
Um fulgor de anseios
que se chocam em cadeia.
A cadeira que baloiça
ao toque um beijo.
Corpo nu...
Estendido nos braços meus,
desejo...
Sentidos abertos,
desertos, malvados...
Fraqueijam-me os dedos
já trémulos de ti,
de um toque que
já não seja irreal...
Um suspiro, ultimo,
e adormecer tranquilo,
sereno,
bem junto ao teu...
Corpo nu...