quinta-feira, 27 de maio de 2010

Silêncio


Já não há nada aqui.
Já não há sons que invadam o ouvido.
Já não há passos dados no chão frio de pedra.
Já não há gritos de prazer num momento bonito.
Já não há luz que me diga o caminho.
Já não há nada aqui.
Já não hás tu.
Já não há o nosso tempo.
Já não há nada.
Nada que possa agarrar e dizer que é meu.
Que quero guardar comigo para sempre.
E para sempre até nem parece longe
quando já nem há nada...
Fecho os meus olhos.
Cá dentro, o Mundo que criei,
e tu nele, fitas-me com
o teu olhar de mel e cor.
É vivo o meu Mundo.
É um Mundo como deve ser.
E penso...
O Mundo que quero é este.
Abro os olhos...
Silêncio...
Perde-se o Mundo na memoria...
Aqui? Nada...
Já nem o silêncio se digna a ficar.
Um tudo de nada...
E já nem há nada aqui...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Mar de tempo


Já é tarde, sabias?
Já há muito dia e luz para trás.
É muito mais que um simples acordar.
É um murro no estômago quando menos se esperava.
E Eu nem sei onde vou, daqui.
Só sei que é tarde, já...
E tu és longe, e perto ao mesmo tempo.
Agora e ontem, assim, de repente...
Fuga ao nexo e ao desalinho.
E Eu não entendo, mas aceno com a cabeça,
como se tudo fosse óbvio, claro!
Pois então?
Já é tarde, sabias?
Já é tarde e eu tenho de por as
minhas coisas no carro e sair...
Temos os caminhos trocados.
Há um mar de tempo
entre os nossos dias.
Um mar de tempo
entre um olhar.
E mesmo que não entenda
porque o faço, assim, de animo leve,
nada me impede de o fazer...
Bem podias...
Mas era pedir demais.
Nem Eu mereço isso...

sábado, 15 de maio de 2010

Deixa-me


Deixa-me sair daqui...
Assim como quem sai de manhã para o trabalho,
sem olhar duas vezes para o que ficou por fazer.
Deixa-me sair de ti...
Fugir-te e perderes-me de vista e nem sequer
quereres procurar-me pelos recantos...
Deixa-me chover por ti abaixo
e molhar a tua pele fria e calada.
Deixa-me ser a luz de um breve instante de Sol.
Secar a agua que jorrei por ti abaixo
e aquecer a tua Alma...
Deixa-me despir o momento...
Devagarinho...
E sentir que o tempo foge ao controlo do mundo
e se refugia no lado esquerdo do meu peito...
Deixa-me sair daqui...
Assim como como quem sai de mansinho
de uma vida que se pensava a certa...
Deixa-me sair de ti...
Desaparecer por ti a dentro e esconder-me
no teu âmago e Tu!!... Tu bem querias
encontrar-me, mas Eu!!!... Eu escondia-me de ti...
Assim me deixasses...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Apaga isso!






Apaga isso!!
Peças de qualquer coisa, que querem juntar-se
e fazer, ou fingir fazer, parecer algo.
coisas que sós, não se entendem
e andam por aí ao Deus dará,
à espera de algo que não se sabe...
Não se é...
Apaga isso!!
Faz-te mal à saúde e à alma.
É como um cigarro que se fuma
e sabe bem...
Tão bem, mas faz mal, desgraçado...
Perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe...
Apaga isso, já disse!!
Levanta-te já desse estado de inercia em que ela te pôs
e acorda para o caminho que tens de seguir.
Acorda para os teus pés e para os teus ideais.
E se não fossem os outros,
aqueles que estão contigo,
agora não estavas aqui,
a ver o embrulho de dias
que se amontoam atrás de ti...
Apaga isso!!
Já te não serve de nada continuares
com isso na cabeça e no telemóvel,
mas, nem sabes porquê,
lá está, guardado, só para te tirar a calma,
quando quiseres.
E tu queres que a calma se vá de ti.
Queres perder a cabeça e ter uma razão...
Apaga isso!!!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Se te vir



Se te vir de novo escrevo-te...
Sim, escrevo-te!
Porquê? Não posso?
Eu faço o que quiser com aquilo
que os meus olhos me despejam na mente.
E assim que te vir, ponho-te num papel
do meu caderno, em letras.
Letras estúpidas, se calhar,
mas das que juntas, formam algo
que faça sentido...
Pelo menos mais do que isto.
Se te vir escrevo-te bela e formosa,
ou então não... Depende...
Posso estar cego...
Ou então só parvo e não queira
ver o que vejo...
Mas se te vir escrevo-te...
Nem que use só uma letra para
te escrever...
Pelo menos ficas no meu caderno
para sempre

terça-feira, 4 de maio de 2010

O sorriso que é teu


Deixaste cá um suspiro...
Quando saíste porta fora nem sequer te preocupou saber
se o que deixavas para trás era teu ou não...
Ficou por aqui aos caídos...
E descansa que ninguém lhe tocou...
Ficou aqui, esquecido de ti, de tudo...
Deixaste cá o tempo...
Ali ficou... Ao canto escuro do quarto.
Escondido dos olhares indiscretos
de quem entrava e olhava o escuro,
curioso de saber o que encontrar...
Se encontrar...
Deixaste por aí, por ventura,
algum resto do que te dei?
É que me faz falta para começar de novo
a olhar o mundo que destruí.
Traz-mo se o tenhas...
Espero por ti à noite.
E quando a noite caia e te deixes
levar pelo silencio do vento
que passeia pela árvore ao fundo da tua rua,
estarei por lá com tudo o que aqui deixaste.
Podemos encontrar-nos sob os braços
cobertos de folhas e memórias
e quando a tua boca se espreguiçar
deliciosamente no sorriso que é teu,
trocaremos de olhares e eu dou-te o brilho
das coisas tuas que guardo em minhas mãos...