domingo, 31 de outubro de 2010

Espero


Já chegava, esse cheiro a saudade...
Castrado pela indiferença e silencio
que se fazem grandes na parede do quarto.
Já faltava o murmúrio de uma confusão
que se assoma à janela para ver o que criou.
Ao longe fogem as ideias que foram um dia
algo que se quis crer, algo que se quis querer...
Já chegava esse cheiro a novo...
Cheiro a papel celofane que se rasgou
de um presente se calhar envenenado...
Cheiro a chuva que bate forte na janela do carro.
E ao longe ouvem-se em surdina os trovões,
depois, muito depois do raio que se viu cair.
Já me saravas a ferida que sangra sem parar,
e me faz ficar aqui ao frio do inverno,
à espera de um dia de Sol que não chega...
À espera que pare a chuva...
À espera de um momento que me encha o peito
e me alegre a espera de um pouco de ti...
Já chegavas, tu...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sonho


Um copo vazio na beira da cama...
Cortinas que dançam ao vento matinal
e abrem de vez em quando o mundo lá fora.
A maré cheia traz um aroma bonito a mar...
As mãos alcançam o outro lado da cama.
Desfazem-se num toque suave de mel
e fundem-se na pele molhada e quente.
Um copo vazio à beira da cama...
Um pouco de agua no chão.
Um pouco de luz que se reflecte
e encandeia os olhos ainda
acostumados com a escuridão
de um sonho de que se saiu...
Um corpo estranho deste lado...
Um estranho sentido, proibido.
Cortinas que mostram o dia lá fora,
ou escondem o medo de sentir.
O medo de ver o que nos dá o outro lado.
O medo de partir o copo, à beira da cama,
e adormecer de novo no sonho...

domingo, 17 de outubro de 2010

Acontece...


Não sei que pensar...
Nem sei que escrever...
Não sei se mereço.
Se vale a pena querer.
Não sei se estou bem...
por me sentir viver.
Não sei se menti,
nem, tão pouco sei,
se de tanto correr
me perdi de ti...
As coisas que passam,
que deixam as marcas,
são coisas que gostas,
malucas, macabras
da vida que queremos,
que pomos às costas...
E sem o saber,
ou tão pouco o querer,
deixamos as coisas ser,
brilhar e acontecer...
E quando olhamos,
quando reparamos,
e vemos que tudo é
surgir e aparecer,
fechamos os olhos,
fugimos aos molhos,
corremos a esconder...
De tudo e de todos
o nosso receio,
com sonho e anseio
sempre à espera
do melhor acontecer...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mel


Mel...
Melodia cantada por
vozes que me toldam a razão...
Dedos que tocam a pele, nua de ti...
De mim...
Mel...
Doce aroma dos sentidos
que leva à perdição
a Alma que dele aspira
um ar venenoso, inebriante...
Mel...
Fica-te assim nos braços
e na saudade de uma
tarde de verão,
à sombra...
À espera...
Levo-te à minha boca
e perco-me nesse ardor
de luzes e paladares
que me confundem o norte
e as pernas, que tremem
ao ouvir a minha mente gritar...
Mel...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sem querer


Há um certo ar de inverno bom
neste fim de tarde cinza ...
As paredes do meu quarto mandam-me lá fora.
Dentro das janelas, agora fechadas
ao rebuliço da rua, poisa uma espécie
de frio, gelado que ao mesmo tempo
aconchegaste...
De repente, perdido neste
meio de estrada...
Vão de escada...
Já não há arraiais de Agosto.
Nem o canto dos pardais
logo pela manhã...
Saio do meu canto...
Desço a rua molhada de gotas
gélidas de um aguaceiro sorrateiro
que se deitou, cidade fora,
e esboço um sorriso...
É cinza, como dia tímido
que agora me foge.
E frio como o inverno
que aí vem...
É bom como a alegria gelada
de te recordar...
Sem querer...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dei-te a mão


Já me cheira a chuva e a pensamento...
Já me alcançou o frio do quarto pela noite.
Despertei à luz de um Sol esquisito
que me abrandou o passo e
me fez perder o autocarro
e a agua que molhou a calçada
logo pela manhã...
Já me cheira a chuva e a pensamento...
Já cá está de novo o sentimento
invejoso que quer ser dono do meu dia.
Já me prendem, os ditos engarrafamentos
mentais que estrangulam a alma
e a metem num sitio escuro
longe dos encantos de uma
madrugada inesquecível...
Já cá faltavas tu...
Era mesmo disso que precisava,
logo agora que me levanto
para um dia de trabalho
no Mundo dito normal...
Achei-te por aí,
estendida no chão à mercê
do que viesse...
Olhei em volta e decidi
chegar primeiro...
Dei-te a mão.
Não a largo mais...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hoje


Só por hoje
deixa-me pousar a cabeça
neste quarto vazio...
Nem vejo já as sobras que chegam.
Levaste na noite o meu olhar
e fiquei vazio de tudo.
Só por hoje
deixa-me sentir o teu perfume
só mais uma vez...
Sei que já fomos
o que fomos e foi bom...
Fomos a pele e o porto de abrigo
dos ventos um do outro .
A cama vazia gela ao
tempo que passa...
Sei de cor o teu corpo
e sinto os meu dedos
nos teus fechados...
Sinto o respirar
no meu canto do olhar.
Só por hoje
deixa-me ter-te dentro de mim
a mostrar esse dom de sorrir.
Hoje... Só hoje,
leva-me por onde vais...