domingo, 28 de março de 2010

Ultimo beijo


Se parasse agora?
Se ficasse por cá, a devorar os segundos
que brotam do relógio, sem parar,
sem pararem...
Se os segundos parassem e o mundo
ficasse quieto?
Se ficasse em silencio a olhar para tudo,
de fora?
A chuva a parar no ar,
e dava até para tocar
nas gotas da agua,
e ver a forma delas...
E dava para ver a cara das outras pessoas
e dos bichos, ali,
paradas pelo tempo.
Paradas pelo ponteiro dos segundos,
e o ponteiro dos segundos, feito louco
a querer sair do lugar e pôr tudo a funcionar,
mas nada!!
E se parasse agora?
As coisas todas no lugar e eu a sair daqui
e a ir para lá e saber que era tudo sem tempo.
Tudo sem se esconder...
E se parasse agora?
Dava um passo maior que a perna e fugia
ao pé de ti, só para te roubar um beijo.
Um ultimo beijo, porque não quero mais,
só um...
Aquele que ficou por dar.
E nem eu nem tu vamos nunca
encontrar o tempo para o ultimo beijo.
Só se o tempo parar e um de nós queira,
e venha, de mansinho,
roubar o beijo que nos morde todos os dias...
Sem se saber...
Sem se esconder...

terça-feira, 23 de março de 2010

À tua espera


Nunca mais chegavas...
E eu aqui, à tua espera...
A comida a arrefecer no prato
e o vinho a perder o travo a frutos silvestres.
E tu, nunca mais chegavas...
Já desesperava à tua espera...
As ruas da cidade a perderem a luz
e as pessoas a fugir assim do seu dia.
As folhas das árvores a virarem-se para o outro lado
e o cão da vizinha na mesma ladainha de sempre.
E eu à tua espera, a enganar o estômago
com uma lasca de pão saloio,
a ver se não gastava a minha fome em
algo que não fosse o jantar, à nossa espera.
E tu nunca mais chegavas...
E eu esperava, feito parvo, com o vinho
a perder o seu brilho
e o jantar na mesa a ficar frio.
Levantei-me e fui à janela.
Talvez o meu vulto visto lá de baixo
te fizesse chegar mais depressa.
Ou talvez estivesses empatada no transito
e eu nem sequer liguei o radio
para saber das noticias...
Talvez fosse a fome que estivesse a fazer
com que o tempo passasse mais devagar
e eu desesperasse por chegares...
Talvez fosse a memoria que me engana
mais uma vez e me faz acreditar que ainda vens...
Saio da janela...
O dia perdeu-se pelo fundo da rua...
O cão da vizinha já se calou.
Nunca mais chegas.
Vou jantar sozinho...

domingo, 21 de março de 2010

Tenho-te aqui


Tenho-te fria, na minha mão
suja deste dia de inverno matinal.
Já te não sei ter, que não seja assim,
de tez escondida do burburinho das luzes da cidade.
Fiz um risco no céu porque pensei
que via o fim ao dia que foi...
Errei mais uma vez...
Tenho-te longe nos meus dedos
soltos deste pormenor matutino.
Deixo-te cair no chão pardo
de já não mais te segurar pelas pontas.
E tu, assim que de mim sais, foges para o mundo
e escondes-te de tudo...
Tenho-te aqui, agora...
Longe do meu coração e tão perto,
tão perto, tão perto, que dói
só de te pensar...
Mas tenho-te aqui...
E aqui vais ficar...

terça-feira, 16 de março de 2010

Sou Eu...


Sou Eu...
Sais-me assim de dentro do mundo.
Feres os meus olhos de ilusão...
Doem-me os dedos de procurar por ti
por todos os livros que mergulham nas minhas mãos.
Sou Eu...
Hoje já não há o suspiro de tranquilo.
Já não existe o tumulto que pulula no âmago.
Deixei de ser meu...
Sou Eu...
Sem ser Eu, estranho...
Obscuro e sombrio pensamento que vagueia
perdido por esse mar de incerteza.
Estou perdido como o pensamento
e nem me quero encontrar.
Tenho certeza.
Sou Eu...
Abre a porta e deixa-me entrar...
Sou Eu... Só Eu.

domingo, 14 de março de 2010

Despedida


A rua veste-se de vazio.
Já nem os pássaros voam por aqui.
Cai a névoa de fim de tarde
e abraça os candeeiros
que expulsam a custo uma luz ténue
para o meio do nada.
O dia despede-se, mas aqui,
ninguém repara.
Olho para a rua, lá ao fundo...
Já lhe não vejo o fim
nem o fim me vê a mim.
Sentado,
com uma chávena de chá numa mão
e um todo de nada na outra.
O chá é agora tudo o que me recorda
do calor que o Sol me trouxe neste dia.
O sino da igreja geme as sete da tarde ao longe...
Está a fazer-se tarde
e despede-se o dia sem ninguém reparar...
Triste e cabisbaixo, segue, horizonte fora,
deixando atrás de si este manto negro
que agora toma forma de noite.
O sino parou.
Agora, silencio de dia que se vai.
Já nem os pássaros voam por aqui.
Sentado, dou um gole no chá...
Sorrio...
Para Mim, para o fim do dia.
Para que saiba e se alegre...
Para lhe mostrar que Eu reparo na despedida.
E de alguma forma ele retribui,
e para mostrar o seu agrado
dá-me calma...
E sabe bem...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Estou farto!!


Nada mudaria só porque se quer...
Faria sentido se tudo fosse igual?
Nada acontecia sem nunca se desejar...
Faria sentido se o óbvio fosse obscuro?
Seria a mesma coisa se ainda não tivesse desistido?
Nunca mais vou entrar por aí...
Seria a mesma vida se te não encontrasse a cada esquina?
O caminho que escolhi continua aqui.
Apenas o percorri de forma errada.
Como se o tivesse feito a correr,
quando afinal o que era preciso
era um passo de calma a cada vez.
Corri... Sim, não me arrependo.
Correr faz bem à estima.
Só tenho pena de não ter visto a pedra
que pus no meu caminho e me fez cair...
Caí... Sim, mas teria sido igual?
Faria sentido se tudo fosse igual?
E se não encontrasse a pedra, estaria aqui?
Nada é valido quando se pensa nos "SES" passados.
Mas parece que são eles que regem a nossa vida.
Estou farto!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Chama-me


Junto os medos e os porquês,
chamo-te a meio da noite...
Levo-te uma mão cheia de nada,
uma mão viciada no cigarro
que queima pouco a pouco
a Alma já de si fraca... Fria...
Não me chames a meio da noite.
Traz-me antes uma mão...
a tua mão, cheia de tudo.
Junta os porquês com os medos.
Junta tudo, põe na mão, na tua mão,
para que se encha, e assim,
com uma mão, a tua mão, cheia de tudo,
eu junto a minha à tua...
Chama-me a meio da noite,
e com a mão cheia de de tudo,
eu vou para ta dar, para te abraçar
e ao teu âmago, com um abraço
daqueles de que sei, te lembras bem...
Chama-me e eu vou...
Mas chama-me só com uma mão cheia de tudo.
Vem ter comigo e fala...
E junto tudo o que tenho para to mostrar.
Quando tu queiras...

sábado, 6 de março de 2010

Pedaços...





Sou um pedaço de tudo cheio de nada...
Um ponto de luz no escuro da noite.
Algo que se vê e não se quer.
Fito o vazio aqui de fora...
Espreita à porta o gato preto.
Lambe as patas e fita-te com o seu olhar.
És um pedaço de nada, vazio de tudo,
mas ele vê-te...
Viro as costas à noite e apago
por hoje a luz que me guia.
Vou dormir, não sei nem para quê.
Fecho os olhos e continuo aqui...
Nem vontade sequer de aquecer a Alma
com a memoria do que já foi...
Já que aqui estou, já que aí estás,
ao menos deixa-me dormir.
Deixa-me descer do escuro e por ora
perder-me nesse prado de margaridas
em flor e riachos que acalmam
os sentidos com os sons que faz
a agua, correndo por entre as rochas...
Deixa-me dormir...
É só um pedaço...
Um pedaço de tudo... cheio de nada.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Alegria


Quando caminhas pelo jardim, mordem-me os lábios e serram-se-me os olhos
de sempre que o teu odor a flores e mel se cruza com o meu pensamento.
Quando descias a rua, as pessoas olhavam e não podia deixar de ver o sorriso que
aparecia nas suas faces de sempre que viam o teu cabelo ondular ao vento Suão...
Quando te vi pela primeira vez, nem te vi...
Estava cego por algo que me prendia o passo e o olhar,
e não me deixava viver...
Foste tu que qual Ser pleno de vida me deu a minha,
como quem deleita uma criança que brinca no jardim.
Foste tu que vieste ter comigo e me soltaste
das correntes que me prendiam ao chão.
Foste tu que me limpaste a escuridão do olhar
e com um suave suspiro,
Inspiraste vida no lado esquerdo da minha Alma...
Quando saíste Mundo fora, fiquei ciumento Dele...
Fiquei zangado por não te poder prender em mim
e para sempre te ter dentro do coração.
Mas depois deixei de ser egoísta e vi que afinal estás aqui.
E agora que te olho com olhos de ver,
nem consigo explicar a sensação que tenho no meu peito...
Algo que só tem lugar num momento, num determinado momento,
que nunca conseguimos prender à memoria...
É aquele baque que dá no peito de cada vez que
esperamos por algo de excitante que aconteça...
Aquele baque que sabemos ser bom...
Alegria, poder compreender-te...

terça-feira, 2 de março de 2010

Bom dia...

Acordas...
Olhas à tua volta só para fechares os olhos logo a seguir.
Tentas desesperadamente fazer parar o tempo,
só para que possas, só mais um pouco, aninhar-te neste mundo
perfeito que te rodeia, agora mesmo...
Mas o tempo segue sem te escutar e logo volta a lembrar-te
que há um dia à tua espera...
Toca o relógio... Som agudo que sai disparado
pelo quarto fora...
Abres os olhos e com muito esforço olhas para a janela,
agora orgulhosa, que te mostra o brilho
do que está para vir...
Tens de o fazer... é obrigatório...
Mexe-te... Põe os pés no chão e levanta
o teu corpo descansado da noite.
Prepara mais um elixir de vida
para gastares no dia que aí vem.
É só mais um...
Mas é mais um...
Magnifico!!
Bom dia...