quarta-feira, 23 de junho de 2010

Escada


Já sei o que foi...
As escadas que descem para a rua e vão de encontro à porta fechada
que se esconde, no lado de dentro às pessoas que passam,
está agora à mercê da luz do Sol...
Do sujo...
As escadas estão lá, e sempre estiveram,
mas, vá-se lá saber porquê,
nunca ninguém as viu.
Nem a quem elas serviam todos os dias para ligar a rua
ao mundo escuro que existia lá em cima...
Já sei o que foi...
´É por isso, se calhar que nunca tiveram pó...
Sempre a subir e descer alguém,
que nunca ninguém viu.
Ou nunca ninguém reparou...
Só agora, que estão vazias e abertas ao mundo...
Já sei o que foi...
Abriu-se a porta e veio assomar-se,
a curiosidade.
E de repente começaram a olhar,
a espreitar e a ver as escadas,
nuas de vida.
Nuas de calor.
Nuas de tanto silencio...
E olham para elas com uma
curiosidade quase mórbida...
Como a alguém ao qual se rouba um sonho
bonito e se deixa, sem remorso,
sozinho, no frio da desilusão...
E os outros a olhar...
Sem ver nada.
Já sei o que foi...
Foi um ar que passou por aqui...
Foi o olhar que despertou...

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