terça-feira, 23 de março de 2010

À tua espera


Nunca mais chegavas...
E eu aqui, à tua espera...
A comida a arrefecer no prato
e o vinho a perder o travo a frutos silvestres.
E tu, nunca mais chegavas...
Já desesperava à tua espera...
As ruas da cidade a perderem a luz
e as pessoas a fugir assim do seu dia.
As folhas das árvores a virarem-se para o outro lado
e o cão da vizinha na mesma ladainha de sempre.
E eu à tua espera, a enganar o estômago
com uma lasca de pão saloio,
a ver se não gastava a minha fome em
algo que não fosse o jantar, à nossa espera.
E tu nunca mais chegavas...
E eu esperava, feito parvo, com o vinho
a perder o seu brilho
e o jantar na mesa a ficar frio.
Levantei-me e fui à janela.
Talvez o meu vulto visto lá de baixo
te fizesse chegar mais depressa.
Ou talvez estivesses empatada no transito
e eu nem sequer liguei o radio
para saber das noticias...
Talvez fosse a fome que estivesse a fazer
com que o tempo passasse mais devagar
e eu desesperasse por chegares...
Talvez fosse a memoria que me engana
mais uma vez e me faz acreditar que ainda vens...
Saio da janela...
O dia perdeu-se pelo fundo da rua...
O cão da vizinha já se calou.
Nunca mais chegas.
Vou jantar sozinho...

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